PARTE DE UMA PETIÇÃO COM ABORDAGEM SISTÊMICA

Por: Bianca Pizzatto

PARTE DE UMA PETIÇÃO COM ABORDAGEM SISTÊMICA

Autos nº 00000000000000

FULANO DE TAL, já qualificado nos autos em epígrafe, por meio de suas procuradoras infra-assinadas, vem à presença de Vossa Excelência, se manifestar a respeito dos relatórios de estudos sociais e psicológicos.

Em que pese o relatório juntado ser controverso, em razão de alguns fatos mencionados não terem ocorrido na residência do pai, o mesmo demonstra que o vínculo afetivo existente na relação de pai e filha é confuso e sobreposto a outros contextos ainda nebulosos neste processo.

O que se denota é a existência de uma lealdade parental, uma vez que a infante apresenta as mesmas dificuldades que o genitor, ora Autor, tem com o seu pai, em razão de que o Autor não teve o pai biológico presente em sua vida e até hoje com ele não convive. Esse comportamento é denominado por alguns estudiosos de lealdade parental invisível, através do qual, um filho não se sente liberado para conviver com pai e mãe, quando estes não convivem com seus próprios pais.

Franz Ruppert, autor da obra SIMBIOSE E AUTONOMIA NOS RELACIONAMENTOS, Ed. Cultrix, 2012, pag. 10 diz que “até quatro gerações, no interior de uma família, podem enredar-se pela ação de traumas não solucionados”.

Bert Hellinger em sua obra A SIMETRIA OCULTA DO AMOR. Ed. Cultrix, 2008, pag. 108 diz que “tudo o que foi reprimido numa família tende a reaparecer nos membros menos capazes de defender-se. Estes são, em geral, os filhos e os netos. A dupla transferência é um subtipo da identificação. A primeira ocorre quando uma pessoa mais nova assume os sentimentos de uma pessoa mais velha via identificação”

Assim, identificamos através das falas da filha que há uma repetição de padrão representado na necessidade de a relação filial ser interrompida, tanto que a psicóloga descreve o relato das partes como contraditório (sic). E esta contradição faz sentindo na sobreposição dos papéis, onde a filha encontra razões para se afastar do pai para que assim ela possa cumprir o padrão familiar, no qual o pai não convive com os filhos.

  Os laudos, portanto, despertaram no genitor um impulso para olhar para sua história e assim, talvez, resgatar o vínculo interrompido com seu pai e desta forma liberar o fluxo de amor em direção à filha. Pois, interromper um laço afetivo familiar é o mesmo que interromper toda a história de uma pessoa, uma exclusão no sistema familiar ressoa em todos os indivíduos da família, principalmente nos filhos que crescem sem ter um amplo convívio paterno, afinal, os filhos são a soma dos pais e dos avós.

O que juridicamente podemos assumir como responsabilidade é olhar para esse padrão e para essa repetição de comportamento, facilitando o caminho em direção ao direito constitucional desta criança de convivência familiar, garantida pela CF (art. 227). É dentro da mãe que a vida começa, mas assim como nos ensina Bert Hellinger[1], é na mão do pai que a criança ganha um caminho para o mundo. Incluir o pai na rotina da criança, é o mesmo que fazê-la se sentir completa, pronta para seguir a vida leve e segura.

Veja-se Excelência, o anseio do Requerente é pela ampliação da convivência com sua filha, para que possa exercer seu papel de pai no sistema familiar da criança, participando do desenvolvimento físico, emocional e intelectual da filha. O conflito, ao que tudo indica, surge justamente por conta do padrão comportamental familiar paterno. Através deste processo, o genitor pôde olhar para sua situação com o próprio pai e assim iniciar um caminho de cura para o sistema.

POSTO ISTO, comprometido em favorecer e promover o direito de convivência familiar da filha, o Autor ratifica o seu pedido de guarda compartilhada e ampla convivência, visto que desta forma o processo cumpre sua função de solucionar o conflito familiar, em especial no presente conflito familiar, no qual o fortalecimento do vínculo pai e filha libera a tensão do vínculo interrompido que existe há pelo menos duas gerações.

Nestes Termos. Pede Deferimento

[1] Psicoterapeuta alemão, inventor das Constelações Familiares.

Bianca Pizzatto

Bianca Pizzatto

Advogada desde 1992 posso dizer que encontrei meu propósito de vida nas Constelações. Atualmente me sinto realizada como advogada, consteladora e professora.

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