NO OCEANO HÁ MUITAS GOTAS

Por: Bianca Pizzatto

Uma estória sobre relacionamentos

Partimos de uma centelha de luz, de criação, de célula viva. Quem sabe?

              Agora vou levar você leitor, há um olhar sistêmico ampliado nas relações humanas. Não sabemos ao certo quando e nem como começamos a ser mais de um, e a partir de dois, somos hoje bilhões de seres humanos. E ao olhar para trás, para a vida que veio dos nossos pais, que nasceram dos nossos avós, que foram gerados pelos nossos bisavôs, que foram concebidos pelos nossos ancestrais, vamos percorrendo um caminho que chega até a centelha.

             Nesse momento, quando nos deparamos com a centelha, olhamos em seus olhos, reconhecemos a semelhança, percebemos seus traços humanos e nos identificamos. De repente, percebemos que outros também olham para a mesma centelha com reconhecimento e pertencimento. Logo, vem a sensação de que, apesar de, não é possível tudo isso ser parte de nós, e perdemos a empatia. O vínculo primário se desfaz e perdemos a conexão.

             Olho para as guerras étnicas, religiosas, territoriais e penso:  Estamos matando a nossa própria raça, aniquilando nossa própria espécie.

Que sentido isso faz?

             Um dia todos fomos uma centelha, um projeto de gente, uma criança. E vamos crescendo cheios de razões e muitas vezes olhamos o outro como inimigo de nossas opiniões, carrasco de nossas convicções. Será que esquecemos nossa verdadeira essência? Afinal, o que nos faz acreditar que somos melhores ou piores do que o outro? O que nossos olhos enxergam?

             O homem nos primórdios mal sabia andar em pé, pouco entendia do mundo e de si mesmo. E ao se desenvolver, se tornar curioso, atento, inteligente, perdeu-se no vazio existencial e já não se reconhece na centelha que lhe deu a vida.  

             Éramos um grande clã em uma consciência planetária única. Com o tempo, nos espalhamos, nos separamos, nos estranhamos e passamos a não mais nos reconhecer como semelhantes. Criamos sistemas familiares, nossos pequenos mundos que coexistem com outros pequenos mundos.  E nesses sistemas somos condicionados a nos comportar de acordo com certos hábitos, costumes, crenças e ordens. E cada sistema se tornou único e singular, nos quais as experiências e acontecimentos são diferentes.

A violência é uma consciência de autopreservação.

             E a nossa boa consciência nos leva a adotar a herança familiar como o valor e a verdade absolutos. E para continuar pertencendo a nossa família nos tornamos adultos dispostos a aniquilar qualquer outro sistema que coloque em risco nosso pequeno planeta familiar. Então, ao olhar para a violência com o mesmo valor que o amor, entendo que a violência é uma consciência de autopreservação.

             Estranho é que ao nos tornarmos adultos somos jogados para fora desses pequenos planetas familiares para buscar justamente em outros planetas familiares, alguém que possa garantir a sobrevivência do nosso pequeno mundo particular. Não somos capazes de manter a vida sozinhos. E quando nos damos conta de que para sobreviver precisamos colocar em risco a própria segurança do sistema familiar, encaramos nossos medos, nossas limitações, nossas fraquezas e impotências. Por mais que tentamos, algo maior sempre nos diz, que a soma das partes não é maior do que o todo. A vida acontece no todo. E buscamos as parcerias, os vínculos, os relacionamentos em outros mundos.

            Através da empatia vamos criando vínculos com pessoas e delas tomamos o que é útil e necessário para a sobrevivência e continuidade do nosso pequeno planeta familiar, que agora é mais interno do que externo. Nesse momento somos invadidos por neurotransmissores que transmitem ao nosso corpo sensações de bem-estar, de prazer, de felicidade. E nossa criança interna se alegra de poder estar em casa novamente.

            Perdemos nosso pai e nossa mãe, somos expulsos do paraíso, daquele lugar seguro que, às vezes mesmo difícil, era o nosso planeta. E assim, nesse vínculo criado a partir da necessidade de sobrevivência, acreditamos que através do outro podemos recriar o nosso pequeno planeta. A questão é que o vínculo é uma estrada de duas mãos. O que eu busco no outro, o outro busca em mim. E quem serve a quem? E qual planeta é melhor? Qual sistema prevalece? Quem vai aniquilar quem nesse novo mundo?

           E o que se vê? Violência, guerras, julgamentos, aprisionamentos. Dois pequenos mundos lutando pela sobrevivência do seu sistema de origem, sua história, suas dores, suas necessidades, sua própria vida. E assim, como nas grandes guerras, todos perdem.

           Enquanto não voltarmos nossa consciência para a centelha, e reconhecermos que o outro, assim como nós, é apenas uma criança querendo voltar para casa, talvez possamos parar de reagir e começar a agir. Agir em prol da reconstrução do paraíso. A guerra não está só nas cidades bombardeadas, a violência não está apenas nas ruas, a escravidão, o ódio, a raiva, não estão somente nos grandes conflitos mundiais. Isso tudo está em nós, nos planetas familiares que criamos uns com os outros.

           A violência começa quando não damos ao outro o direito de ser e estar no mundo, de buscar sua casa, que também é nossa. Somos todos uma centelha. Sim, por alguma razão crescemos em pequenos planetas familiares, e sempre somos impulsionados a sair deles para cair no todo. É como olhar para o mar e reconhecer que nele estão bilhões de gotas de água, que vez ou outra são arremessadas nas ondas, se quebram nas rochas, e buscam incansavelmente se reconstruir e se reconhecer. Nos relacionamentos muitas vezes perdemos a nossa própria identidade, sofremos como gotas nas ondas, já não sabemos mais quem somos, nos desconectamos da nossa origem e ficamos no vazio, com medo de nunca mais conseguirmos nos reconectar.

          Mas todos, absolutamente todos nós acabamos por voltar ao oceano. E vamos nos misturar na imensidão do todo para se unir a centelha e lá, talvez, poder finalmente dizer “enfim, eu voltei para casa”.

          Enquanto isso, que tal olhar para os seus pais, seus irmãos, seus familiares e amigos e reconhecer neles a centelha. Que tal parar por um instante, olhar seu companheiro ou sua companheira, ou aquela pessoa estranha que anda na rua da sua casa, e ver neles as mesmas dores, as mesmas buscas, a mesma necessidade de voltar para casa. Os outros não são culpados por nossas dores, nossos fracassos ou nossos medos, porque simplesmente os outros não percorrem o nosso caminho, percorrem os deles.

          E mesmo que com eles tenhamos algum tipo de vínculo, que nos faz caminhar junto, isso não retira deles a centelha da humanidade, eles ainda continuam sendo aquelas pequenas crianças tentando entender quem são, de onde vêm e para onde vão.

          Que você possa ser para o outro o olhar da empatia, o sorriso do pertencimento, o abraço da segurança e a mão que acolhe e libera, sabendo que tanto você quanto o outro estão tentando vencer as ondas para voltar para o oceano. E lá nada disso mais importa, os vínculos se tornam desnecessários, os corpos apodrecem, os valores se transmutam, as crenças e hábitos se perdem no vácuo da grande alma e todos se reconectam a Origem.

          Então, se você de alguma forma, não viu no outro a mesma centelha que há em você, e julgando-se melhor, reprimiu, agrediu, ofendeu, excluiu, eu te convido para não esperar a próxima onda, se jogue no amor que tudo liberta e diga pessoalmente, por telefone, por mensagem, por e-mail, não importa como, simplesmente diga: EU SINTO MUITO. AGORA EU VEJO VOCÊ. EU TE LIBERO DAS MINHAS NECESSIDADES E TOMO RESPONSABILIDADE SOBRE A MINHA VIDA. E DESEJO QUE VOCÊ SEJA FELIZ E ENCONTRE SEU JEITO DE VOLTAR PARA CASA. EU E VOCÊ PODEMOS CONTINUAR JUNTOS PORÉM LIBERADOS. 

Bianca Pizzatto

Bianca Pizzatto

Advogada desde 1992 posso dizer que encontrei meu propósito de vida nas Constelações. Atualmente me sinto realizada como advogada, consteladora e professora.

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