Um olhar sobre o Sistêmico
Por: Marcelle Monte Serrate
Um olhar sobre o Sistêmico
Assim como outras pessoas que se apaixonaram pelo pensamento sistêmico, comecei sendo constelada para olhar uma questão pessoal. E após várias camadas de cebola sendo tiradas, descobri que a escolha pelo direito era da minha MÃE e que eu vinha repetindo muitos padrões dela e da minha ancestralidade feminina.
O Direito sempre me pareceu pesado, de cor preta e marrom, escritórios antigos, com tapetes enormes, a deusa Temis por alí, olhar de julgadora e advogados Donos da Razão. Atraí para mim trabalhos onde meus chefes eram assim: prepotentes, donos da razão, litigantes. Hoje percebo que tinha algo de mim neste contexto mas o fato é que quando me percebi apaixonada pela advocacia sistêmica engatei um caminho sem volta (ainda bem!).
Tamanha minha alegria e surpresa quando ao estudar mais sobre a filosofia sistêmica, como a “ciência das relações humanas”, foi fácil incluir o Direito neste contexto. Afinal, nós advogados somos operadores das relações que envolvem as pessoas, através do que chamamos de conflito. Na minha percepção, ser advogado sistêmico é mais que atuar profissionalmente. É um estilo de vida. Tudo ao redor é sistêmico. Você passa a entender os contextos. Sua família de origem, sua família atual, seus relacionamentos anteriores, seus filhos, sua postura diante das empresas e escritórios as quais você trabalha… Enfim… todo nosso olhar se amplia com as lentes do sistêmico e passa a ser impossível não atuar sistemicamente na profissão.
A advocacia sistêmica, nesta rota, nos aparece como uma abordagem diferenciada da advocacia padrão. O direito em si é sistêmico, mas não aprendemos nas faculdades a vê-lo desta forma. O advogado sistêmico assume competências relacionais e cooperativas, que nos faz migrar do pensamento cartesiano de certo x errado, para uma visão circular das relações conflituosas.
O pensamento sistêmico aplicado não apenas na atuação dos colegas advogados como também operacionalizado pelos demais membros do poder judiciário, torna a justiça mais leve, mais humanizada, mais estratégica e mais consensual; e espero que essa consciência coletiva esteja se fortalecendo cada vez mais. Passamos de meros operadores e conhecedores das leis positivadas para um olhar ampliado sobre os conflitos, (que são parte das relações desde que mundo é mundo); Para profissionais que auxiliam o cliente a obter consciência de suas respectivas responsabilidades. Sim, sempre há uma “justa razão”. Aquela que os autos não traz expressa. E mesmo em casos de necessidade de judicialização, sabemos que após um atendimento sistêmico a parte irá agir (ou ao menos pensar) diferente, adotar uma postura no mínimo menos bélica durante o processo.
Este é o efeito do campo, quando presenteia a parte envolvida com um retrato da sua história dentro daqueles fatos, até então unilaterais, através das dinâmicas sistêmicas. O advogado sistêmico antes de tudo, precisa estar em constante trabalho interno. Trabalhar seu jogo interno a todo tempo. Saber compreender seus emaranhados, suas nuances para que seja um facilitador do cliente mas não o próprio cliente. Também, exercer a escuta ativa requer tempo, exercício, postura, estado de presença. Aprender que é possível levar as partes para uma solução do conflito, requer HUMILDADE de não saber. O conflito é do cliente não do advogado.
O sistema quando chega até você, advogado, já existe, apenas facilitamos algo. Importante conhecer também as cinco ordens da Ajuda e aplica-las para si primeiramente e depois para os outros. Dar apenas o que podemos dar: escuta ativa, orientação, percepções; Aceitar as coisas como são e apoiar o cliente à medida que ele permite; Colocar-se como adulto perante o cliente, para que o mesmo não seja a criança vitimada que vê o advogado como PAI e Salvador; Empatia diante da história do cliente; Não julgar, mas compreender que é como é e para tudo há um pano de fundo, bem como uma boa solução. Importante também diferenciarmos o trabalho sistêmico realizado nos tribunais pelos magistrados/promotores, do trabalho sistêmico dos advogados, vez que há uma ética que nos norteia e indica quenão somos terapeutas enquanto atuamos como advogados, mas sim advogados que possuem uma visão sistêmica sobre os conflitos; um zoom que nos torna mais humanizados diante das pessoas, situações e conflitos
Marcelle Monte Serrate
Marcelle Monte Serrate é advogada e terapeuta em Constelação Familiar Sistêmica na cidade de Marabá/Pará.
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